domingo, 8 de fevereiro de 2009

A estética deformada



Loiras siliconadas. Morenas saradas. Mulheres magérrimas. Basta ligarmos os nossos televisores, ou olharmos outdoors nas ruas, notamos a dominação destes estereótipos femininos. Nossa sociedade cresceu acompanhando as determinações de certos padrões de beleza, e hoje está difícil reverter.
Desde o longínquo surgimento da Cultura de uma sociedade, as civilizações primam por um misto de beleza e valores. Os chineses consideram belo aquilo que une a Estética e o Simbolismo. Os gregos, que cultivaram a filosofia, padronizaram o ideal de beleza dos corpos em suas diversas obras de arte. Vênus de Milo, Ares, Ajax, Asclépio e Posêidon, todas estas estátuas representam um ideal de forma física que, para o classicismo Greco-romano, enquadra-se como nenhum outro. Foi de lá, dessa civilização que beira o mar Mediterrâneo, que os homens começaram a valorizar a sua forma e o seu pensar, dando início a uma revolução no viver de até então. Os seus Deuses possuíam a sua forma, as suas virtudes e os seus defeitos. Por causa deles, sabemos hoje que a chuva não é a incrível dádiva de uma determinada divindade, apesar de ser, sim, encarada como fascínio como toda a natureza. O sol nasce e põe-se por conta dos movimentos planetários, e não devido a passagem de algum deus pelos céus. Enfim, possuíam, em sua cultura, a junção de beleza e conhecimento, numa união impecável. Desse modo, os tempos passaram e, por onde quer que a influência latina tenha chegado, muito dessa estética foi incorporada, e também esquecida.
A leitura está emburrecendo o homem moderno. Quem afirmou isso, com extremo embasamento, foi Schopenhauer. O que será que ele quis dizer com isso? Sabemos que a sociedade brasileira mascara, e muito, a paupérrima educação de sua gente. Os índices que apontam o grau de instrução e escolaridade da população são otimistas, mas vemos uma enorme disparidade entre os analfabetos, funcionais ou não, e os que realmente lêem. A leitura liberta, e faz com que pensemos por nós próprios, coisa que os poderosos não querem. Culpa da Ditadura Militar? Também. O povo, tomado por massa de manobra, não pensa por si próprio e, quando acha que pensa, é imbatível. Há de se ser sutil para comandá-los. A televisão consegue isso perfeitamente bem. A essa altura, você, leitor, já deve estar se perguntando o porquê do título conter as palavras que tem. Simples: está mais que visto a exposição que a mulher sofre nos meios de comunicação, a associação de beleza feminino à seios e bumbuns torneados e em forma. Do físico masculino comparar-se a uma escultura de Michelangelo para ser realmente bonito. Anorexia, bulimia, cirurgias plásticas, nomes cada vez mais comuns no nosso cotidiano. O padrão de beleza adotado pela sociedade marginaliza os que não se enquadram. A raça negra é desmoralizada constantemente. Todos os traços que reforçam a identidade da negritude são ocultados. Lábios carnudos, narizes largos, cabelos crespos. Tranças, então: relegados a posição de “penteado de turista”. Belo, hoje, é o que se encaixa num modelo europeu, de gestos e desenhos finos. Mas, quem disse que a beleza é unânime? Todo esse processo reduz a auto-estima feminina de ter um corpo negado pela sociedade. E, repetindo um velho exemplo que os leitores, com certeza, já tiveram chance de presenciarem, são estes de mulheres que saem para o trabalho cedo e, mesmo com pouco tempo, deixam de alimentarem-se para alisarem os seus cabelos. A silhueta então, sofre bastante: os físicos esqueléticos ilustram a mentalidade da beleza no mundo moderno. Ter uns quilos a mais é sentença de morte, onde o purgatório se configura como uma academia.
É importante reiterar toda essa situação e esperamos, de verdade, que outros espaços debatam sobre esse tema, mas nós temos que levar em conta essa outra perspectiva. A nossa falta de visão da vida nos faz limitados e comandados. Dizem-nos o que vestir, o que comer, o que comprar, o que assistir, com quem andar. Se você acha chato os seus pais lhe impondo um comportamento que não quer aceitar, imagina ser comandado por algo que não nos conhece, fruto do sistema. Hoje em dia, enxergam muito mais gente do que indivíduos. As nossas singularidades estão se perdendo. Essa coisa invade as nossas casas e prendem-nos, em presídios mentais, em reproduções reais daquilo que tentou mostrar o filme Matrix. Nós não fazemos nada. Esse monstro invisível muda o nosso jeito de ser, e continuamos sem fazer nada. Quando todos tivermos as cabeças raspadas, nomeados por números e morarmos em campos de concentração, já não poderemos fazer mais nada. Então, liberte-se enquanto você pode e enquanto tem o poder. Nós, que temos um pouco de consciência da dura realidade a nossa volta, podemos mudar. Estamos sim, quem diria, acima de quem nos quer domar e enjaular. Liberte-se, afinal você é mais que um corpinho bonito. Liberte-se.